26 de novembro
1908 - Autoridades de Bela Vista apelam contra Bento Xavier
Em carta enviada ao coronel José Alves Ribeito, o coronel Jejé, em Aquiauana as autoridades constituídas de Bela Vista pedem socorro ao governo do Estado para a situação daquele município, invadido por forças do coronel Bento Xavier:
Bela Vista, 26-11-908
Coronel José Alves Ribeiro.
Aqui reunidos numerosos amigos diversas localidades Sul do Estado.
A situação que tão bem se afirmava depois das providências do governo expulsando deste rico e próspero território os desordeiros chefiados pelo caudilho Bento Xavier, foi-se afrouxando com a retirada da maior parte dos contingentes destacados na fronteira e terminou pela nova invasão que espalhou o pânico e a desordem por toda parte.
Por falta de garantias e de apoio material, todas as autoridades locais, tanto judiciárias como administrativas e policiais, tiveram de fugir, abandonado suas famílias, seus domicílios e os cargos públicos que ocupavam.
Todos os cidadãos conservadores e amigos da ordem, obedientes às leis e ao governo, foram obrigados a correr espavoridos, percorrendo longas distâncias a pé, pelos matos, pelos pântanos, seguindo alguns até Corumbá, em busca de um canto onde a desordem e as depredações ainda não tivessem chegado.
Os comerciantes obrigados a abandonar suas casas com mercadorias, à disposição dos assaltantes, e os fazendeiros ainda uma vez foram roubados, sendo-lhes subtraídos grande quantidade de boiada e cavalhada.
A justiça deixou de ter servidores, a administração
inteiramente suspensa; tudo perturbado, tudo em desordem.
As próprias eleições municipais e estaduais não tiveram lugar na época legal, devido ao império do arcabuz. É certo que o governo não podia ser nem mais enérgico, nem mais solícito; entretanto, a grande distância, a enorme dificuldade dos transportes, deram lugar a que, durante 40 dias, permanecesse a deplorável situação narrada.
Temos refletido maduramente sobre as condições em que nos
encontramos, e concluímos sempre sobre a necessidade de abandonar
definitivamente as nossas propriedades.
Todos os proprietários, industriais, comerciantes e fazendeiros desta região estão convencidos de que a anarquia, o desrespeito à propriedade e a falta de garantias à vida dos cidadãos vai se constituindo um regime definitivo nestas paragens.
Que fazer diante disso? Não se trata de uma questão política que se poderia solver por um acordo; o que ocorre aqui é o desacato, o roubo e a selvageria, cometidos por bandos que certos da impunidade, lançam-se resolutamente a atacar os cidadãos a altas horas da noite, de bacamarte, espingardeando os indefesos, mutilando os que pretendem opor-lhes resistência e roubando às escâncaras para irem banquetear na vizinha República do Paraguai, onde hoje se encontram reunidos em grande número armado, festejando com as próprias autoridades vizinhas, a data da independência dessa desorganizada República.
Nesta conjectura, só resta um alvitre: - é apelarmos para o benemérito governo do coronel Pedro Celestino, nossa última esperança.
Pedimos providências capazes de permitir aos habitantes do sul o seu regresso aos lares. Parece-nos que essa providência só pode ser a criação de uma sub-chefia de polícia apoiada com força capaz. Essa sub-chefia, porém, de nada servirá se o governo não nomear pessoa na altura do cargo e da situação, que exigem energia e força.
Sabemos que o governo e o emérito chefe político depositam a máxima confiança no dr. Brandão: pois bem, os nossos votos coincidem nesse mesmo ilustre e abnegado amigo. Assim pois lhes comunicamos os nossos de como pensamos. Se estiverdes de acordo, rogamos em nome do povo das comarcas do sul, apresentar este ao ex.mo sr. presidente do Estado, rogando pronta resposta.
Abraços. - Zózimo F. Gonçalves, Atanásio de Almeida Melo,
Eduardo Peixoto, Oscar de Souza, Clemente Gonçalves Barbosa, José Martins
Barbosa, João Crisostomo de Moraes, Antonio Gomes, Tenente Arruda, filho,
Justino Leite da Silva, Candido Pinheiro, Ernesto Vilas Boas, Gabriel de
Almeida, Bernardino F. Lopes, Antonio Diogo Garcia de Sousa, Afonso Loureiro e
Militão Loureiro.14
FONTE: O Autonomista (Corumbá),
02-01-1909
26 de novembro
De Campo Grande, o futuro presidente da República recebeu do Centro Cívico Jânio Quadros o seguinte telegrama:
Surpreendidos comunicados radiofônicos, noticiando renúncia candidatura presidência da República, apesar alheios motivos vos forçaram tão séria decisão, apressamos externar V. Exa. nossa profunda decepção, grandes aborrecimentos diante impacto veio nos ferir esta altura acontecimentos, quando já conduzimos bandeira redenção nossa pátria representada Vosso digno nome acerca um ano. Fazemos apelo V. Exa. reconsidere ato assumindo comando todos janistas brasileiros, vosso nome representa esperança nossa gente, certeza vitória e segurança dias melhores nosso malfadado Brasil. Confiamos decididamente espírito patriótico de V. Exa. nessa hora grave nossa existência não recuarás diante imposição de grupos ou cúpulas políticas, não representam verdadeiros anseios homens de bem deste país.
Cordialmente,
Dr. Ladislau Marcondes, presidente Centro.